O mercado de desenvolvimento de jogos eletrônicos é um espaço para diferentes profissionais, dentre os quais, muitas mulheres vêm se destacando por trazer uma visão diferenciada, no que a proporção de desenvolvedoras atuantes no Brasil está aumentando: se em 2014 eram 15%, atualmente são 20%, ou seja, há 565 mulheres desenvolvendo jogos no Brasil, segundo o Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais.
A média global não é diferente da situação brasileira, de acordo com os dados coletados no início de 2017 em pesquisa da International Game Developer Association (IDGA), 74% dos desenvolvedores de jogos são homens, e 21% são mulheres (o restante do percentual indica outras orientações de gênero).
Em uma visão estereotipada, profissões ligadas à computação seriam um mercado com predominância masculina, no que o ponto de vista feminino mostra importantes lições para quem quer crescer na área: Camila Nachbar tem 23 anos, moradora de São Paulo, é formada em Análise e desenvolvimento de Sistemas. Com dois jogos publicados e participações em diversos eventos e conferências, atualmente ela está cursando Jogos Digitais na Fatec Carapicuiba, área que considera “sua paixão”. Ela afirma ter se inspirado em empresas nacionais que ganharam fama mundial: “acho que o principal fator que fez o sonho se tornar uma real possibilidade, foi ver studios brasileiros conseguindo lançar jogos de sucesso”.
Camila joga videogame desde os sete anos de idade; fascinada pela diversão eletrônica, teve diversos consoles, o que ajudou na escolha da profissão: “com o tempo saiu da perspectiva hobby e se tornou sonho de carreira”, avalia.
Sobre as dificuldades iniciais em trabalhar com jogos eletrônicos, Camila Nachbar vê entraves relacionados ao mercado de tecnologia da informação, que considera restrito: “Infelizmente na área de T.I no Brasil já não é fácil para mulheres, em jogos se torna um milagre”. Ela comenta sobre o direcionamento profissional através dos estudos e da segmentação: “Como não tive condições financeiras para iniciar uma pós graduação em jogos ou ainda o próprio estúdio como muitos fazem, decidi optar por me especializar na área de desenvolvimento Web e há cinco anos trabalho com isso; hoje trabalho na primeira empresa focada em Serviços Cognitivos, atuo como desenvolvedora Java e desenvolvo meu projetos de jogos em casa e finais de semana”.
Há também o lado gratificante em trabalhar com games; para Camila, a alegria maior é o projeto pronto, após longas etapas de produção: “com certeza ver os jogos finalizados, criar o jogo é sempre um processo muito criativo e árduo. Envolve muito tempo, dinheiro, e saber como lidar com a própria expectativa, porque precisamos saber como equilibrar o triângulo (dinheiro, tempo e qualidade)”, comenta.
Quanto ao valor agregado que as mulheres desenvolvedoras podem trazer à uma equipe, Camila analisa o desempenho feminino através de suas vivências: “Na verdade eu acredito que as mulheres sejam muito mais organizadas e conseguem manter a qualidade nas entregas, como também escutam críticas de uma maneira muito mais madura”. Ela revela que em alguns momentos os homens acabam sendo mais problemáticos: “Eu tive mais problemas com homens do que com mulheres nesses cinco anos de experiência no mercado”; o profissionalismo aliado ao crescimento da área poderá traçar um futuro com muito mais garotas atuantes na produção de jogos.