Imagine que você acorda um dia e sente que não está mais vivo. Você olha no espelho e vê um cadáver. Você não sente fome, sede ou dor. Você acha que o mundo ao seu redor é uma ilusão. Você pensa que não tem mais sentido viver.
Você está sofrendo da síndrome de Cotard.
A síndrome de Cotard é um raro distúrbio neuropsiquiátrico em que a pessoa acredita que está morta, que não existe ou que o mundo não existe. A condição foi descrita em 1880 por Jules Cotard, um neurologista e psiquiatra francês. Ele relatou o caso de uma mulher chamada Mademoiselle X, que negava a existência de Deus, do diabo, de várias partes do seu corpo e da sua necessidade de se alimentar. Ela afirmava ser eternamente condenada e queria ser queimada viva.
Os pacientes com síndrome de Cotard podem ter outras alucinações e delírios, como acreditar que foram substituídos por impostores, que seus órgãos internos estão sendo comidos por vermes ou que seu cérebro está apodrecendo. Eles podem se isolar socialmente, negligenciar sua higiene pessoal, tentar suicídio ou até mesmo mutilar-se. Alguns casos extremos envolvem pacientes que se enterram vivos ou se expõem ao frio intenso para confirmar sua morte.
A síndrome de Cotard pode estar associada a vários transtornos neurológicos e psiquiátricos, como esquizofrenia, depressão, epilepsia e lesões cerebrais. Algumas pesquisas sugerem que há uma alteração na atividade cerebral dos pacientes com síndrome de Cotard, especialmente nas áreas relacionadas à percepção do próprio corpo, à emoção e à memória. Por exemplo, um estudo de 2010 mostrou que um paciente com síndrome de Cotard tinha uma redução no fluxo sanguíneo na região frontal do cérebro, responsável pelo raciocínio e pela tomada de decisões.
Não há um critério específico para o diagnóstico da síndrome de Cotard, e o tratamento geralmente envolve psicoterapia, medicamentos ou eletroconvulsoterapia. A psicoterapia visa ajudar o paciente a reconhecer e questionar seus pensamentos irracionais e a recuperar sua autoestima e seu senso de realidade. Os medicamentos podem incluir antidepressivos, antipsicóticos ou estabilizadores de humor. A eletroconvulsoterapia consiste em aplicar uma corrente elétrica no cérebro do paciente para induzir uma convulsão controlada, que pode aliviar os sintomas depressivos e psicóticos.
A síndrome de Cotard é uma das muitas condições neurológicas que nos mostram o quanto ainda desconhecemos sobre o funcionamento do nosso cérebro. Ela nos faz questionar como podemos ter certeza da nossa própria existência e da realidade que nos cerca. Ela também nos lembra da importância de cuidarmos da nossa saúde mental e de buscarmos ajuda profissional quando necessário.
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