Dentre as diversas profissões ligadas a produção de jogos eletrônicos, a direção de arte tem uma importância especial; afinal, o sucesso de um jogo se deve em muito ao visual de seus personagens e cenários. Devido ao avanço da computação, cada vez mais a arte nos jogos se torna mais apurada, com detalhes beirando o realismo ou gráficos estilizados com belas paletas de cores.
Alice Grosseman Mattosinho, ou Alice Monstrinho, 28 anos, é uma artista de Florianópolis – SC, que possui em seu currículo trabalhos variados, tanto na área de quadrinhos como de games. Atuando na Direção de Arte em jogos, ela comenta as diferenças entre as ilustrações criadas para outras mídias e as específicas para games: “As ilustrações para um game precisam considerar a aplicação direta nos personagens e cenários dentro do jogo e de que maneira isso pode afetar a jogabilidade e recursos limitados dentro do jogo. Uma ilustração para quadrinhos, por exemplo, precisa apenas transmitir a ideia da cena da melhor maneira possível. Já a arte para games precisa considerar que um personagem complexo pode conter muitos polígonos na modelagem ou muitos detalhes para a animação”.
O mercado de arte para jogos além de específico, é também desafiante, conforme explica Alice: “Crio admiração ainda maior a cada novo jogo que tenho a chance de testar. Não apenas pela beleza, mas pela forma que se resolvem problemas e solucionam tudo de maneira visual. O mercado em sí possui muitos profissionais de altíssimo nível e uma concorrência muito grande, em especial na área de arte conceitual e criação de personagens, mas a possibilidade de criar jogos de menor escopo dá chance de novos artistas colaborarem com sua visão de mundo em novas produções. É bastante disputado, portanto uma boa solução é criar jogos menores e independentes”, disse ela.
O conceito de politicamente correto tem sido objeto de discussão na sociedade, no que também tem sido causa de mudanças no visual dos heróis dos games; Alice comenta: “Felizmente temos discutido mais sobre a maneira prejudicial que muitos jogos (especialmente antigos) representavam (ou nunca mostravam) mulheres, afro-descendentes e pessoas de cor, além de LGBT. Isso trouxe uma mudança recente na escolha de protagonistas e personagens em geral e além de diversificar, abrangendo um público maior, não fazem um desserviço na imagem de tantas pessoas. A escolha de visual de muitos personagens não possui qualquer contexto ou lógica além da necessidade do apelo visual e objetificação, portanto essa abertura de ideias também possibilitou uma melhora real em muitos personagens. Vemos empresas de jogos incríveis e aclamados tomando medidas de mudança e, apesar de andarmos a passos lentos, já é possível ver heróis mais diversos e críveis, que nos marcam, que amamos e nos identificamos graças a essas mudanças”.
Para quem quer trabalhar na área, os desafios são vários; Alice deixa algumas dicas: “O clichê de “não desista de seus sonhos” é verdadeiro, mas não é o suficiente. Precisamos criar oportunidades e praticar muito nossa profissão para que seja possível uma abertura de mercado. Como há muita concorrência, sugiro sempre criar jogos pequenos de meio independente para construir um portfólio e também aprender como funciona a pipeline da criação de jogos. Depois de criar um portfólio bacana e focado em sua área de atuação, participe de eventos, fale com pessoas, esteja presente e demonstre seu interesse em trabalhar na área. Eventualmente as oportunidades irão surgir”, afirma.