Uma nova terapia combinada pode oferecer esperança para pacientes com câncer de ovário avançado e resistente a medicamentos.
A terapia consiste em combinar uma vacina personalizada contra o câncer com uma infusão de células imunes do próprio paciente que são treinadas para reconhecer e atacar as células cancerosas.
O câncer de ovário é um dos tipos mais letais de câncer ginecológico, que afeta cerca de 300 mil mulheres em todo o mundo a cada ano. Muitas vezes, o câncer se espalha para outros órgãos antes de ser diagnosticado e se torna resistente aos tratamentos convencionais, como quimioterapia e cirurgia. Por isso, há uma necessidade urgente de desenvolver novas estratégias terapêuticas que possam melhorar a sobrevida e a qualidade de vida das pacientes.
Uma dessas estratégias é a terapia celular adotiva (ACT), que envolve coletar células imunes chamadas linfócitos T do sangue do paciente, selecionar e expandir as que têm potencial para atacar o câncer, e depois devolvê-las ao paciente por meio de uma infusão. No entanto, essa abordagem tem limitações, como a dificuldade de encontrar células T suficientemente específicas e ativas contra o câncer, e a possibilidade de que elas sejam suprimidas pelo ambiente tumoral.
Para superar esses desafios, os pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI) e da Universidade da Pensilvânia (UPenn) desenvolveram uma vacina personalizada contra o câncer que pode estimular as células T a reconhecer e atacar as proteínas mutadas (neoantígenos) expressas pelas células cancerosas. Esses neoantígenos são únicos para cada paciente e podem servir como alvos ideais para a imunoterapia.
A vacina é feita a partir de células dendríticas do próprio paciente, que são células imunes especializadas em apresentar antígenos às células T. As células dendríticas são carregadas com os neoantígenos identificados por meio de sequenciamento genético do tumor do paciente, e depois injetadas sob a pele do paciente. A vacina visa educar as células T a reconhecer os neoantígenos como estranhos e perigosos, e induzi-las a se multiplicar e migrar para o tumor.
O estudo envolveu 18 pacientes com câncer de ovário avançado e resistente a medicamentos, que receberam uma infusão de suas células T vacinadas, seguida de doses periódicas da vacina. Os resultados mostraram que 12 dos 17 pacientes avaliáveis tiveram controle da doença em três meses, sendo que cinco tiveram redução do tamanho do tumor. O tempo médio de sobrevida foi de 14,2 meses, o que é superior à mediana histórica de 10 meses para pacientes com câncer de ovário recorrente.
Além disso, o estudo revelou os mecanismos imunológicos por trás da terapia combinada. Os pesquisadores observaram que as células T vacinadas persistiram no sangue dos pacientes por até dois anos após a infusão, e que elas eram capazes de reconhecer vários neoantígenos diferentes. Eles também descobriram que os níveis de neoantígenos alvo das células T aumentaram no DNA tumoral circulante, o que sugere que a terapia estava causando estresse nas células cancerosas.
Os autores do estudo afirmam que essa é a primeira vez que uma terapia combinada de ACT e vacina personalizada contra o câncer é testada em humanos, e que os resultados são encorajadores. Eles esperam que essa abordagem possa ser aplicada a outros tipos de câncer que têm alta carga mutacional, como melanoma, câncer de pulmão e câncer colorretal.
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