A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma enfermidade que atinge cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo; novembro é o mês da conscientização
Segundo dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) e do Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), entre 1989 e 2021, a taxa percentual de fumantes acima dos 18 anos de idade no Brasil sofreu uma queda relevante, passando de 34,8% para 9,1%, informações divulgadas pelo Governo Federal em sua base de dados.
Além disso, o país registra um aumento da procura por dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), os famosos vapers, os cigarros eletrônicos, utilizados por 1 a cada 5 jovens entre 15 e 24 anos, de acordo com o Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em tempos de pandemia – Covitel.
Entre os diversos efeitos da fumaça de cigarro nos pulmões, o tabagismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), enfermidade que atinge cerca de 210 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo em torno de 6 milhões apenas no Brasil, como confirmam os dados da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doenças Torácicas.
Possíveis consequências do uso de cigarro eletrônico para a saúde
Os pneumologistas Dr. Clystenes Odyr Soares, professor da UNIFESP, e Dr. José Roberto Megda Filho, avaliam as consequências dessa mudança de comportamento para a saúde dos brasileiros no futuro (informações divulgadas em comunicado de imprensa):
“O Brasil estava caminhando muito bem no controle do tabagismo e, infelizmente, o cigarro eletrônico veio de modo avassalador. Tudo o que se ganhou, certamente, estamos perdendo agora, porque o vaper é tão nocivo ou até mais do que o cigarro convencional. Não podemos deixar de mencionar que um fumante passivo pode desenvolver a doença na mesma intensidade de um fumante ativo: existem pessoas que nunca fumaram e adoecem pela exposição”, afirma Soares.
Estando proibidos no Brasil desde 2009 pela Anvisa e alertados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), por não haver comprovação científica de que esses produtos sejam inofensivos à saúde, os cigarros eletrônicos poderão vir a ser a principal causa de DPOC segundo Megda, através do contato precoce com a irritação causada pelos elementos químicos presentes:
“São substâncias que se modificam quando expostas a altas temperaturas e irritam as vias respiratórias, alterando o sistema imunológico do pulmão e aumentando o risco de infecções, o que, por sua vez, facilita a penetração de vírus e bactérias. Essas inflamações e irritações crônicas podem fazer danos irreversíveis nas paredes dos alvéolos, é um quadro muito semelhante ao enfisema ocasionado pelo cigarro comum”, explica.
Qual é o perfil dos pacientes de DPOC atualmente?
A DPOC é uma doença que se manifesta, na maior parte dos casos, após os 40 anos de idade, sendo 90% em indivíduos com histórico de tabagismo, segundo o Ministério da Saúde.
A opinião de ambos os especialistas é unânime ao se discutir a possibilidade de mudança do perfil destes pacientes: “É fundamental considerar que o desenvolvimento total de um pulmão ocorre aos 25 anos. Considerando que adolescentes de 15 anos de idade têm contato com cigarros eletrônicos, é possível que tenhamos pacientes com casos DPOC aos 35, fugindo do estereótipo do idoso que fumou por décadas”, afirma Soares.
Já Megda também ressalta que o fato de a fumaça ser menos irritativa que o cigarro comum e a presença das essências que dão diversos sabores fazem com que o usuário perca a consciência do quanto se está fumando:
“A pessoa começa a fumar em ambientes inclusive fechados, em situação que não fuma o cigarro normal, como perto da família, em ambientes que com o cigarro normal seria criticado, como rodinha de trabalho, e começa a fumar mais. Ainda não é possível estabelecer em quanto tempo o vaper criará uma lesão no pulmão, mas é fato que as substâncias tóxicas podem sim causar injúrias respiratórias de alta gravidade”, conclui.
Entenda mais sobre a DPOC
A DPOC, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, está associada à exposição ao fumo, poluição e gases tóxicos, que provocam alterações progressivas na estrutura e função do pulmão, como o enfisema pulmonar e a bronquite crônica, segundo informações do Ministério da Saúde.
Os principais sintomas são a dispneia, ou seja, falta de ar aos esforços que pode progredir até para atividades simples do dia a dia, como tomar banho; e a tosse crônica: geralmente produtiva, com expectoração de muco ou catarro.
Apesar de ser incurável, a DPOC pode ser controlada. O exame de espirometria auxilia no diagnóstico e determina a gravidade da doença, determinante para a escolha terapêutica adequada.
Existem tratamentos disponíveis no SUS que atuam para retardar a progressão da doença, controlar os sintomas e reduzir as complicações. Em caso de sintomas, busque seu médico.