A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), que ataca o sistema imunológico e facilita o surgimento de infecções oportunistas e tumores.
A AIDS não tem cura, mas pode ser controlada com o tratamento adequado, que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais, que impedem a multiplicação do vírus no organismo.
O primeiro caso de AIDS no Brasil foi registrado em 1980, em São Paulo, em um homem que havia viajado aos Estados Unidos. Na época, a doença era vista como uma ameaça desconhecida e mortal, que afetava principalmente homens homossexuais, usuários de drogas injetáveis e hemofílicos. O estigma e a discriminação contra as pessoas infectadas eram grandes, assim como a falta de informação e de políticas públicas efetivas.
Nos anos seguintes, a epidemia se espalhou pelo país, atingindo também mulheres, crianças, heterossexuais e pessoas de diferentes classes sociais e regiões. Em 1985, foi criado o Programa Nacional de DST e AIDS, vinculado ao Ministério da Saúde, que passou a coordenar as ações de prevenção, assistência e vigilância epidemiológica. Em 1987, o Brasil foi um dos primeiros países a oferecer gratuitamente o teste de HIV pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em 1991, o Brasil adotou a distribuição gratuita de preservativos masculinos como uma das principais estratégias de prevenção, além de realizar campanhas educativas e de conscientização, especialmente durante o carnaval. Em 1996, o país iniciou a oferta universal e gratuita de antirretrovirais pelo SUS, garantindo o acesso ao tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV. Essa medida foi considerada um marco na história da resposta à AIDS no Brasil e no mundo, e contribuiu para reduzir as mortes e as internações relacionadas à doença.
Em 2003, o Brasil lançou o Plano Nacional de Ampliação do Acesso aos Testes Rápidos de HIV, que permite o diagnóstico em cerca de 30 minutos, com uma gota de sangue ou saliva. Em 2013, o país adotou o tratamento imediato para todas as pessoas diagnosticadas com HIV, independentemente do estágio da doença ou da contagem de células CD4, que são as mais afetadas pelo vírus. Em 2017, o Brasil incorporou a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao SUS, que consiste no uso preventivo de antirretrovirais por pessoas que não têm o vírus, mas que estão em situação de maior vulnerabilidade.
Essas e outras iniciativas fizeram do Brasil um exemplo internacional de enfrentamento à AIDS, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). O país também se tornou referência na produção de medicamentos genéricos e na defesa da quebra de patentes de antirretrovirais, visando garantir o acesso aos tratamentos a preços mais baixos.
Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios para controlar a epidemia de AIDS. Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS de 2020, o país tem cerca de 990 mil pessoas vivendo com HIV, das quais 723 mil estão em tratamento antirretroviral. Em 2022, foram registrados cerca de 50 mil novos casos de HIV e 11 mil óbitos por AIDS. A maior concentração de casos está entre os jovens de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros.
Entre os fatores que contribuem para a persistência da epidemia estão a baixa adesão ao tratamento, o abandono do uso de preservativos, o aumento das infecções sexualmente transmissíveis (IST), a falta de testagem regular, o preconceito e a discriminação contra as populações-chave, que são aquelas mais expostas ao risco de infecção, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, profissionais do sexo, usuários de drogas e pessoas privadas de liberdade.
Para enfrentar esses desafios, o Brasil aderiu à meta global de 95-95-95, proposta pelo UNAIDS, que consiste em alcançar, até 2030, 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas, 95% das pessoas diagnosticadas em tratamento e 95% das pessoas em tratamento com carga viral indetectável, ou seja, com baixa ou nenhuma capacidade de transmissão do vírus. Para isso, o país tem investido em ações de prevenção combinada, que envolvem o uso de preservativos, a testagem frequente, o tratamento precoce, a PrEP, a profilaxia pós-exposição (PEP) e a redução de danos.
A AIDS no Brasil é uma realidade que pode ser mudada com a participação de todos: governo, sociedade civil, profissionais de saúde, mídia, empresas, escolas, famílias e indivíduos. Cada um pode fazer a sua parte, se informando, se protegendo, se testando, se tratando e respeitando o próximo. A AIDS não tem cura, mas tem controle. E o controle depende de você.