Você já imaginou acordar um dia e perceber que não consegue mexer metade do seu rosto?
Essa é a situação de quem sofre de Paralisia de Bell, uma doença que afeta o nervo facial e causa a perda de movimento dos músculos de um lado da face.
A Paralisia de Bell é uma condição relativamente comum, que pode atingir qualquer pessoa, independentemente de idade, sexo ou etnia. Estima-se que cerca de 40 mil pessoas por ano sejam diagnosticadas com a doença nos Estados Unidos. No Brasil, não há dados oficiais, mas acredita-se que a incidência seja semelhante.
A jornalista Fernanda Gentil foi uma das vítimas da Paralisia de Bell. Ela contou em suas redes sociais que notou uma dormência nos lábios ao beijar seu filho e, dias depois, viu que o lado esquerdo do seu rosto não estava respondendo aos seus comandos. Ela chegou a pensar que poderia ser um AVC (acidente vascular cerebral), mas depois descobriu que se tratava da Paralisia de Bell.
Mas afinal, o que causa a Paralisia de Bell e como diferenciá-la de um AVC?
A causa mais provável da Paralisia de Bell é uma infecção pelo vírus do herpes, o mesmo que causa as feridas nos lábios e na região genital. Esse vírus pode ficar adormecido no organismo por anos e, quando há uma queda na imunidade, ele pode atacar o nervo facial, que é o responsável pelos movimentos e expressões do rosto.
O nervo facial sai do cérebro e passa por um canal ósseo estreito no crânio, chamado de meato acústico interno. Quando o nervo fica inflamado, ele sofre uma compressão nesse canal, o que prejudica a transmissão dos impulsos nervosos para os músculos da face. Isso leva à paralisia ou ao enfraquecimento dos músculos de um lado do rosto.
Os sintomas da Paralisia de Bell costumam aparecer de forma súbita e podem variar de intensidade. Os mais comuns são:
- Dificuldade para piscar, fechar ou abrir o olho do lado afetado;
- Boca torta, com dificuldade para sorrir, mostrar os dentes ou assobiar;
- Perda da sensibilidade ou dor na região do ouvido do lado afetado;
- Alteração do paladar nos dois terços anteriores da língua;
- Lacrimejamento ou ressecamento excessivo do olho do lado afetado;
- Hipersensibilidade a sons.
A Paralisia de Bell não tem relação com problemas no cérebro, como o AVC. No entanto, é importante saber diferenciar as duas condições, pois o AVC é uma emergência médica que requer atendimento imediato.
Uma forma simples de fazer essa distinção é observar se há outros sintomas além da paralisia facial, como:
- Fraqueza ou dormência em um dos braços ou pernas;
- Dificuldade para falar ou entender o que os outros falam;
- Confusão mental ou perda de memória;
- Alteração da visão ou da audição;
- Tontura, vertigem ou desequilíbrio;
- Dor de cabeça intensa e súbita.
Se houver algum desses sintomas, é preciso procurar um serviço de emergência o mais rápido possível, pois pode se tratar de um AVC.
O diagnóstico da Paralisia de Bell é feito principalmente pela avaliação clínica, baseada na história e no exame físico do paciente. Em alguns casos, podem ser solicitados exames complementares, como a eletroneuromiografia, que mede a atividade elétrica dos nervos e dos músculos, ou a ressonância magnética, que permite visualizar o nervo facial e descartar outras causas de paralisia, como tumores, traumas ou infecções.
O tratamento da Paralisia de Bell consiste no uso de medicamentos anti-inflamatórios e antivirais, que devem ser iniciados o quanto antes, preferencialmente nas primeiras 72 horas após o início dos sintomas. Além disso, é recomendado proteger o olho do lado afetado com colírios lubrificantes e óculos escuros, para evitar o ressecamento e a irritação da córnea.
Também é importante fazer exercícios e massagens faciais, que ajudam a estimular os músculos e a prevenir a atrofia ou a contratura. Em alguns casos, pode ser necessário o acompanhamento de um fisioterapeuta ou de um fonoaudiólogo, que podem orientar as melhores técnicas de reabilitação.
A maioria dos pacientes com Paralisia de Bell se recupera completamente em algumas semanas ou meses, sem deixar sequelas. No entanto, em cerca de 10% dos casos, pode haver complicações, como:
- Sincinesia: movimentos involuntários e anormais da face, como o fechamento do olho ao sorrir ou o levantamento da sobrancelha ao piscar;
- Espasmo hemifacial: contrações involuntárias e repetitivas dos músculos de um lado da face;
- Contratura: encurtamento permanente dos músculos da face, que causa deformidade e rigidez;
- Paralisia permanente: perda definitiva da função do nervo facial, que impede a recuperação dos movimentos da face.
A Paralisia de Bell é uma doença que causa grande impacto na qualidade de vida e na autoestima dos pacientes, pois afeta a aparência e a comunicação. Por isso, é fundamental buscar ajuda médica o quanto antes e seguir as orientações de tratamento. Além disso, é importante contar com o apoio da família e dos amigos, que podem ajudar a enfrentar esse momento difícil com mais confiança e otimismo.