Um estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a vacina BCG, usada para prevenir a tuberculose em crianças, não tem efeito protetor contra a infecção pelo bacilo da tuberculose em adultos.
A pesquisa, publicada na revista científica The Lancet – Infectious Diseases, acompanhou mais de 3 mil profissionais de saúde de Manaus, Rio de Janeiro e Campo Grande, que receberam uma dose adicional da vacina BCG ou um placebo, e avaliou se eles se infectaram ou não pelo Mycobacterium tuberculosis, o agente causador da doença.
Os resultados mostraram que não houve diferença significativa entre os grupos vacinados e não vacinados na taxa de infecção pelo bacilo da tuberculose, que foi de cerca de 10% em ambos os grupos após um ano de acompanhamento. Isso significa que a vacina BCG não protege os adultos contra a infecção inicial pelo Mycobacterium tuberculosis, que pode permanecer latente no organismo por anos ou evoluir para a forma ativa da doença, que causa sintomas como tosse, febre, perda de peso e dificuldade respiratória.
O estudo brasileiro faz parte de um ensaio clínico internacional que está avaliando a eficácia da vacina BCG em trabalhadores de saúde contra a Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. A hipótese é que a vacina BCG possa ter um efeito imunomodulador, ou seja, capaz de estimular o sistema imunológico de forma ampla e não específica, e assim conferir alguma proteção contra outras infecções respiratórias, incluindo a Covid-19. Os resultados dessa parte do estudo ainda não foram divulgados.
Os pesquisadores da Fiocruz ressaltam que os achados do estudo não invalidam o uso da vacina BCG em crianças, que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil, pois a vacina é eficaz em prevenir as formas graves da tuberculose na infância, como a meningite tuberculosa. No entanto, eles destacam que os resultados evidenciam a necessidade de desenvolver novas vacinas para prevenir a tuberculose em adultos, especialmente em populações de alto risco, como os profissionais de saúde, que estão mais expostos ao bacilo da tuberculose.
A tuberculose é uma das doenças infecciosas que mais mata no mundo, com cerca de 1,4 milhão de óbitos por ano, segundo a OMS. O Brasil é um dos 30 países com maior carga da doença, com cerca de 70 mil casos e 4,5 mil mortes por ano, segundo o Ministério da Saúde. A vacina BCG foi desenvolvida há quase um século e é a única vacina disponível contra a tuberculose, mas sua eficácia é limitada e variável. Por isso, há vários esforços de pesquisa em andamento para criar novas vacinas mais eficazes e seguras contra essa doença.
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