Uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) está trabalhando em um projeto inovador que visa utilizar porcos geneticamente modificados para fornecer órgãos para transplantes em humanos.
O objetivo principal é reduzir a longa fila de espera por transplantes no Brasil, que atualmente conta com mais de 71 mil pessoas.
Liderado pelo farmacêutico e especialista em bioengenharia de tecidos Ernesto Goulart, o projeto reúne cerca de 50 pesquisadores de diversas instituições e conta com o financiamento inicial da empresa farmacêutica EMS. A iniciativa representa um passo importante na busca por soluções para a escassez de órgãos para transplantes, um problema que afeta milhares de pessoas em todo o mundo.
Clonagem e Edição Genética para Órgãos Mais Compatíveis
O processo de criação de porcos geneticamente modificados para transplantes envolve duas etapas principais: clonagem e edição genética. Na primeira etapa, os pesquisadores coletam óvulos de porcas, removem seu material genético e inserem o DNA de uma célula adulta de pele de porco. Essa técnica, conhecida como clonagem por transferência nuclear de células somáticas (NTSC), permite a produção de embriões geneticamente idênticos ao animal doador.
Até o momento, a equipe da USP já produziu mais de 10 mil embriões clonados e realizou 20 transferências para fêmeas receptoras. No entanto, a taxa de sucesso da técnica ainda é baixa, com apenas 1% a 5% dos embriões implantados no útero completando a gestação e nascendo.
Na segunda etapa, os pesquisadores utilizam técnicas de edição genética para modificar o DNA dos porcos clonados. O objetivo é tornar os órgãos desses animais mais compatíveis com o sistema imunológico humano, reduzindo assim o risco de rejeição após o transplante.
Nesse sentido, a equipe já obteve sucesso na desativação de três genes que codificam açúcares reconhecidos pelo sistema imunológico humano como estranhos, causando a rejeição hiperaguda. Além disso, os pesquisadores estão trabalhando para inserir sete genes humanos nas células suínas, o que pode contribuir ainda mais para a compatibilidade entre as duas espécies.
Instalações Especiais para Criação de Porcos Doadores
Os porcos clonados e geneticamente modificados serão mantidos em duas instalações especiais projetadas para a criação de animais doadores de órgãos para uso humano. A primeira instalação, com capacidade para até 10 animais, foi inaugurada em abril deste ano no campus da USP em São Paulo.
Essas instalações seguirão rigorosos protocolos de biossegurança para garantir a saúde dos animais e a qualidade dos órgãos destinados a transplantes. O objetivo é criar um ambiente o mais próximo possível do natural, proporcionando bem-estar aos animais e minimizando o risco de doenças.
Avanços Promissores, Mas Desafios Persistem
Embora o projeto da USP represente um grande avanço na área de xenotransplantes, alguns desafios ainda precisam ser superados. Um dos principais desafios é a baixa taxa de sucesso da clonagem por NTSC. Além disso, pesquisas mais aprofundadas são necessárias para avaliar a longo prazo a segurança e a efetividade dos transplantes de órgãos de porcos geneticamente modificados em humanos.
Apesar dos desafios, os resultados obtidos até o momento pela equipe da USP são promissores e geram grande expectativa para o futuro dos transplantes de órgãos. A iniciativa abre caminho para novas possibilidades no tratamento de pacientes que sofrem com doenças graves e aguardam ansiosamente por um transplante que possa salvar suas vidas.
Nos últimos anos, pelo menos três pacientes graves receberam transplantes de órgãos de porcos como tratamento de última instância. Em todos os casos, os órgãos foram fornecidos por empresas privadas que realizaram alterações genéticas nos animais para torná-los mais compatíveis com os humanos. No entanto, os pacientes acabaram falecendo algumas semanas ou meses após o transplante, devido principalmente à rejeição tardia do órgão.
O projeto da USP visa superar esses desafios e contribuir para o desenvolvimento de protocolos seguros e eficazes para transplantes de xenotransplantes. O sucesso dessa iniciativa poderá revolucionar a área de transplantes, oferecendo uma nova esperança para milhares de pacientes que aguardam por um órgão compatível.
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