Um novo estudo publicado na revista Nature Communications revela que a infeção pelo novo coronavírus pode desencadear a produção de autoanticorpos, moléculas que atacam o próprio organismo e estão relacionadas com doenças autoimunes.
Os autoanticorpos podem contribuir para a gravidade da COVID-19 e para o desenvolvimento de sintomas pós-COVID, como fadiga, dor e inflamação.
Os pesquisadores analisaram amostras de sangue de 147 pacientes com COVID-19, desde casos leves até críticos, e compararam-nas com amostras de 157 pessoas saudáveis. Eles descobriram que os pacientes com COVID-19 tinham níveis mais elevados de autoanticorpos do que os indivíduos saudáveis, e que esses níveis aumentavam com a idade e com a gravidade da doença.
Os autoanticorpos encontrados nos pacientes com COVID-19 eram capazes de reconhecer e atacar diferentes tipos de células e tecidos do corpo humano, como as células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos, as plaquetas, que participam da coagulação do sangue, e as células imunológicas, que defendem o organismo contra infecções. Esses alvos podem explicar alguns dos sintomas e complicações da COVID-19, como a formação de trombos (coágulos) nos vasos sanguíneos, a trombocitopenia (redução do número de plaquetas) e a tempestade de citocinas (reação inflamatória exagerada).
Os autoanticorpos também podem persistir no organismo após a recuperação da COVID-19 e causar danos a longo prazo. Os pesquisadores acompanharam 19 pacientes por até seis meses após a alta hospitalar e observaram que os níveis de autoanticorpos permaneceram elevados ou até aumentaram em alguns casos. Isso pode estar relacionado com o aparecimento de sintomas pós-COVID, que afetam cerca de 10% dos pacientes recuperados.
O estudo sugere que os autoanticorpos podem ser usados como marcadores ou alvos terapêuticos para pacientes com COVID-19 grave ou outras patologias. Os pesquisadores propõem que sejam realizados testes para detectar os autoanticorpos nos pacientes com COVID-19 e que sejam desenvolvidas estratégias para bloquear ou remover os autoanticorpos do sangue. Eles também alertam para a necessidade de monitorar os pacientes recuperados da COVID-19 para prevenir ou tratar possíveis doenças autoimunes.