A partir deste sábado (15), as consultas médicas realizadas à distância por meio de equipamentos e aplicativos de vídeo serão reembolsadas pela Seguridade Social do governo francês. O Estado passa a cobrir 70% do custo dos pacientes inscritos no sistema de saúde da França, ou seja, a mesma porcentagem de uma consulta normal.
A decisão já é considerada pela imprensa francesa uma “evolução” do funcionamento do sistema de saúde no país. As únicas regras a serem respeitadas são que as consultas devem ser realizadas por intermédio de uma teleconferência segura, os pacientes devem possuir mais de 16 anos e devem respeitar o percurso normal do procedimento: o doente deve se dirigir primeiro a seu médico generalista. Na França, a população inscrita no sistema de saúde deve obrigatoriamente indicar à administração o nome e os dados de seu clínico-geral, o profissional responsável pelo seu acompanhamento médico. Nenhum clínico poderá, no entanto, emitir licenças médicas de mais de cinco dias a seus pacientes por meio de teleconsultas.
Segundo o jornal Le Monde, todos os franceses se beneficiarão desta nova regra, aprovada em junho, após cinco meses de negociações entre os sindicatos de médicos e o sistema de saúde da França. Para limitar uma possível explosão de teleconsultas médicas – e consequentemente de custos -, o diretor do Fundo Nacional do Seguro de Saúde francês, Nicolas Revel, solicitou que este tipo de procedimento fosse implementado em etapas, e que fosse inicialmente reservado a pacientes com doenças crônicas, como diabetes ou Alzheimer, ou aqueles que residem em locais isolados ou sofrem de uma doença rara.
Mas o Palácio do Eliseu decidiu finalmente estender o benefício a toda a população. Para Le Monde, se alguns médicos veem a decisão como uma maneira de liberar mais tempo útil para os profissionais de saúde, ou mesmo de evitar internações injustificadas, outros continuam céticos a respeito dos “efeitos colaterais” do dispositivo.
Funcionamento na prática
Do ponto de vista tecnológico, a teleconsulta, que requer o uso de uma conferência de vídeo, consistirá no envio, pelo médico, de um link ao paciente, convidando-o a se conectar a um site ou aplicativo seguro, por meio de seu computador, tablet ou mesmo celular, aparelhados com uma câmera (webcam).
Segundo os experts do sistema de saúde da França, aplicativos como o Skype ou o FaceTime poderão ser utilizados porque “parecem suficientemente seguros para este tipo de procedimento com o paciente, se ele já for conhecido de seu clínico-geral”. Mas o médico Pierre Simon, da Sociedade Francesa de Telemedicina (SFT), entrevistado por Le Monde, acredita que o “risco de uma violação do segredo médico” seria “elevado” nessas circunstâncias. Segundo Claude Leicher, ex-presidente do MG France, o mais antigo sindicato de clínicos-gerais, o dispositivo seria inseguro: “eu teria medo de prescrever medicamentos a uma criança com febre por meio de uma teleconsulta e não diagnosticar, por exemplo, uma possível pneumopatia”, diz ao jornal francês.
As teleconsultas médicas na França poderão ser feitas a partir de agora com smartphones, tablets, dentro de centros de saúde, com o auxílio de enfermeiras, ou mesmo em farmácias, que poderão futuramente oferecer este serviço. As receitas médicas serão enviadas pelos Correios, ou em formato eletrônico seguro, seja diretamente ao paciente, que poderá imprimir a receita, ou às farmácias que possuírem o mesmo dispositivo eletrônico seguro que os médicos.
Segundo a Sociedade Francesa de Telemedicina, uma teleconsulta por webcam permite realizar cerca de 80% de um exame realizado face a face com o paciente.