Pesquisas no Japão e no Reino Unido indicam que o futuro da odontologia pode mudar radicalmente: de obturações e implantes para dentes que se regeneram sozinhos com um creme dental feito de cabelo.
Dentistas podem estar prestes a se despedir do “motorzinho”
O temido diagnóstico de uma nova cárie pode estar com os dias contados. Pesquisadores em vários países estão desenvolvendo tecnologias que prometem fazer crescer dentes inteiros e regenerar o esmalte naturalmente, o que pode transformar completamente o tratamento odontológico nas próximas décadas.
Os avanços vêm de duas frentes principais: um medicamento japonês que estimula o crescimento de novos dentes e uma tecnologia britânica que usa proteínas de cabelo e lã para reconstruir o esmalte dental. Ambos os estudos sugerem que o futuro dos consultórios pode ser menos sobre perfurações e obturações — e mais sobre regeneração biológica.
Por que o esmalte não se regenera naturalmente
O esmalte dos dentes é o tecido mais duro do corpo humano, composto quase inteiramente por minerais, principalmente hidroxiapatita — um cristal de fosfato de cálcio. Apesar de sua resistência, ele tem uma limitação: não se regenera.
Isso acontece porque as células que o formam, chamadas ameloblastos, desaparecem quando o dente termina de se desenvolver. Sem essas células, o corpo não tem como reparar o esmalte perdido por desgaste, cárie ou erosão.
Segundo o pesquisador Dr. Sherif Elsharkawy, do King’s College London, “ao contrário dos ossos e dos cabelos, o esmalte dental não volta a crescer. Uma vez perdido, está perdido para sempre”.
Medicamento japonês promete fazer crescer novos dentes
Pesquisadores da Universidade de Kyoto, no Japão, estão testando um medicamento capaz de estimular o crescimento de dentes completamente novos, uma conquista inédita na medicina moderna.
O segredo está em bloquear uma proteína chamada USAG-1, que normalmente impede o desenvolvimento do que seria uma “terceira dentição” — já que os humanos têm apenas duas: os dentes de leite e os permanentes.
Nos testes realizados em camundongos e furões, bloquear a USAG-1 fez nascer dentes perfeitamente formados. Os ensaios clínicos com humanos começaram em setembro de 2024 e devem ser concluídos em 2025.
A expectativa é que, se o tratamento se mostrar seguro e eficaz, ele chegue ao mercado japonês até 2030, tornando implantes e dentaduras possivelmente obsoletos.
Cabelos e dentes: a aposta britânica na queratina
Enquanto isso, pesquisadores do King’s College London estão desenvolvendo uma forma de reconstruir o esmalte dental com queratina — a mesma proteína presente em cabelos, pele e lã de ovelha.
Quando aplicada aos dentes, a substância reage com o cálcio e o fosfato da saliva, formando uma camada cristalina que imita perfeitamente o esmalte natural, fortalecendo a estrutura e reduzindo a sensibilidade.
Além da eficácia, a tecnologia se destaca por ser sustentável: utiliza resíduos biológicos e elimina o uso de resinas plásticas tóxicas comuns em restaurações dentárias.
Os primeiros cremes dentais e enxaguantes bucais com queratina podem chegar ao mercado dentro de dois a três anos, segundo os pesquisadores.
Hidroxiapatita: o futuro que já está no seu banheiro
Enquanto os avanços mais radicais ainda passam por testes, um componente regenerativo já está disponível: a hidroxiapatita (HAP).
Esse mineral, que representa 97% do esmalte natural dos dentes, é usado em cremes dentais capazes de preencher microfissuras e fortalecer o esmalte de fora para dentro.
Estudos mostram que os produtos com hidroxiapatita são tão eficazes quanto o flúor na prevenção de cáries — e ainda proporcionam alívio rápido da sensibilidade, sem riscos tóxicos.
A substância é considerada por especialistas o primeiro passo prático da odontologia regenerativa, já acessível ao consumidor.
Odontologia entra na era da regeneração biológica
Por mais de um século, a odontologia foi marcada por métodos mecânicos: perfurar, limpar e preencher. Agora, a ciência está abrindo caminho para uma abordagem biológica — em que o próprio corpo é estimulado a curar os dentes naturalmente.
Com medicamentos que prometem fazer crescer novos dentes e tecnologias que restauram o esmalte com proteínas e minerais, o dentista do futuro pode trocar a broca por uma seringa e uma escova especial.
E talvez, em alguns anos, o barulho do motorzinho que tantos temem seja apenas uma lembrança — ou uma peça de museu.
