Um novo estudo clínico está testando duas vacinas experimentais contra o HIV em combinação com a profilaxia pré-exposição (PrEP), um método de prevenção que consiste em tomar um comprimido diário para evitar a infecção pelo vírus.
O estudo, chamado PrEPVacc, envolve cerca de 1.700 participantes na África do Sul, Uganda e Tanzânia, que têm alto risco de contrair o HIV.
O objetivo do estudo é avaliar se as vacinas podem induzir uma resposta imune duradoura e protetora contra o HIV, e se a combinação com a PrEP pode aumentar a eficácia da prevenção. Os participantes serão acompanhados por quatro anos e meio, e receberão testes regulares de HIV e aconselhamento sobre saúde sexual.
Histórico de vacinas contra o HIV
O desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o HIV é um dos maiores desafios da ciência médica, pois o vírus tem uma alta capacidade de mutação e de escapar do sistema imunológico. Até hoje, nenhuma vacina conseguiu prevenir a infecção pelo HIV ou reduzir a transmissão do vírus.
As tentativas anteriores de desenvolver uma vacina contra o HIV tiveram resultados decepcionantes ou inconclusivos. O primeiro ensaio clínico de larga escala, chamado AIDSVAX, foi realizado entre 1998 e 2003, e não mostrou nenhuma proteção contra o HIV em mais de 5 mil participantes na Tailândia e nos Estados Unidos.
Em 2009, um outro ensaio clínico, chamado RV144, mostrou uma modesta eficácia de 31% em prevenir a infecção pelo HIV em mais de 16 mil participantes na Tailândia. No entanto, essa proteção diminuiu com o tempo e não foi replicada em outros estudos.
Em 2017, um ensaio clínico chamado HVTN 702 foi iniciado na África do Sul, usando uma versão modificada da vacina do RV144 adaptada ao subtipo de HIV predominante na região. No entanto, o estudo foi interrompido em 2020, após constatar que a vacina não era eficaz em prevenir a infecção pelo HIV.
Desenho do estudo PrEPVacc
O estudo PrEPVacc usa duas vacinas experimentais contra o HIV, que foram desenvolvidas por pesquisadores da Universidade de Oxford e da Universidade da Cidade do Cabo. As vacinas são baseadas em vetores virais (vírus modificados que não causam doença) que carregam partes do HIV para estimular o sistema imunológico.
Os participantes do estudo são sorteados para receber quatro doses de uma das seguintes combinações:
- Vacina A + Vacina B + PrEP
- Vacina A + Vacina B + placebo (comprimido sem efeito)
- Vacina C + Vacina D + PrEP
- Vacina C + Vacina D + placebo
- Placebo (injeção sem efeito) + placebo + PrEP
- Placebo (injeção sem efeito) + placebo + placebo
Os pesquisadores vão comparar as taxas de infecção pelo HIV entre os diferentes grupos, e analisar as respostas imunes induzidas pelas vacinas. Eles esperam que as vacinas possam gerar anticorpos neutralizantes (que bloqueiam a entrada do vírus nas células) e células T (que reconhecem e eliminam as células infectadas pelo vírus).
Prevenção combinada contra o HIV
O estudo PrEPVacc é um dos vários esforços em andamento para encontrar uma vacina protetora contra o HIV. Outros estudos estão testando diferentes tipos de vacinas, como as que usam proteínas recombinantes ou ácido nucleico.
Enquanto uma vacina eficaz contra o HIV não é encontrada, existem outros métodos de prevenção disponíveis para as pessoas que têm risco de contrair o vírus. Além da PrEP, que tem uma eficácia de mais de 90% se tomada corretamente, há também o uso de preservativos, a circuncisão masculina, o tratamento como prevenção (que consiste em tomar medicamentos antirretrovirais para reduzir a carga viral e a transmissibilidade do HIV) e a profilaxia pós-exposição (que consiste em tomar medicamentos antirretrovirais após uma situação de risco).
A prevenção combinada contra o HIV é uma estratégia que envolve o uso de múltiplos métodos de prevenção, de acordo com as necessidades e preferências de cada pessoa. Essa abordagem pode aumentar a adesão, a cobertura e o impacto da prevenção, e contribuir para o fim da epidemia de AIDS.