O vírus Oropouche é um dos principais agentes causadores de febre hemorrágica no Brasil, com sintomas parecidos com os da dengue.
Em 2023, foram registrados surtos da doença em quatro estados da região Norte: Amazonas, Pará, Rondônia e Acre. Para facilitar o diagnóstico e a vigilância do vírus, pesquisadores da Fiocruz Amazônia desenvolveram um protocolo de detecção por PCR em tempo real, que será usado por oito laboratórios públicos brasileiros e outros países da América.
O protocolo foi criado pelo Laboratório de Virologia Molecular da Fiocruz Amazônia, coordenado pelo pesquisador Felipe Naveca. Segundo ele, o método é rápido, sensível e específico para identificar o vírus Oropouche em amostras de sangue ou saliva de pacientes com suspeita da doença. Além disso, o protocolo permite fazer a caracterização genética do vírus, ou seja, saber quais são as variantes que estão circulando em cada região.
“O vírus Oropouche é muito diverso e tem uma alta taxa de mutação. Isso pode influenciar na sua capacidade de transmissão e na gravidade dos casos. Por isso, é importante fazer a vigilância genômica para monitorar as mudanças que ocorrem no vírus e avaliar o impacto na saúde pública”, explica Naveca.
O protocolo da Fiocruz Amazônia foi validado em parceria com o Instituto Evandro Chagas (IEC) e aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O projeto conta com o apoio do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). O objetivo é ampliar a rede de diagnóstico do vírus Oropouche no Brasil e em outros países da América, como Peru, Colômbia, Venezuela e Suriname.
“O vírus Oropouche é uma ameaça emergente para a saúde pública na América do Sul. Ele pode causar surtos explosivos e afetar milhares de pessoas. Por isso, é fundamental ter um protocolo padronizado e confiável para detectar o vírus e acompanhar a sua evolução”, afirma Naveca.
Dengue no Brasil: situação heterogênea e complexa
Outro vírus que preocupa as autoridades sanitárias no Brasil é o da dengue, que também causa febre hemorrágica e pode levar à morte. A situação da dengue no país é heterogênea, com predominância de diferentes sorotipos e genótipos em cada estado. A Fiocruz e outras instituições colaboram na identificação e monitoramento das linhagens circulantes do vírus da dengue.
Existem quatro sorotipos do vírus da dengue: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Cada sorotipo pode ter vários genótipos, que são grupos de vírus com características genéticas semelhantes. A circulação de diferentes sorotipos e genótipos pode influenciar na intensidade das epidemias e na gravidade dos casos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2023 foram notificados mais de 1 milhão de casos prováveis de dengue no Brasil, com 528 óbitos. O sorotipo predominante foi o DENV-2, seguido pelo DENV-1 e DENV-4. No entanto, a distribuição dos sorotipos variou entre as regiões e os estados.
Por exemplo, na região Norte, o DENV-2 foi o mais frequente em todos os estados, exceto no Amapá, onde prevaleceu o DENV-4. Na região Nordeste, o DENV-1 foi o mais comum em todos os estados, exceto na Bahia, onde predominou o DENV-2. Na região Centro-Oeste, o DENV-2 foi o mais encontrado em todos os estados. Na região Sudeste, o DENV-1 foi o mais detectado em São Paulo e Minas Gerais, enquanto o DENV-2 foi o mais observado no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Na região Sul, o DENV-2 foi o mais presente em todos os estados.
Além da diversidade dos sorotipos, os pesquisadores também analisam os genótipos do vírus da dengue que estão circulando no Brasil. Um estudo realizado pela Fiocruz e pela Universidade de São Paulo (USP) mostrou que, entre 2019 e 2020, houve uma mudança no genótipo predominante do DENV-2 no país. O genótipo Americano/Asiático, que era o mais comum até então, foi substituído pelo genótipo Cosmopolita, que tem origem na Ásia e foi introduzido no Brasil em 2014.
Os pesquisadores alertam que essa mudança pode ter implicações na epidemiologia e na clínica da dengue no Brasil. O genótipo Cosmopolita tem sido associado a casos mais graves e a maior transmissibilidade do vírus. Além disso, a substituição de um genótipo por outro pode indicar uma maior adaptação do vírus ao vetor (o mosquito Aedes aegypti) e ao hospedeiro humano.
“A vigilância genômica do vírus da dengue é essencial para entender a dinâmica da doença no Brasil e para subsidiar as ações de prevenção e controle. É preciso acompanhar as mudanças que ocorrem no vírus e avaliar o seu impacto na saúde da população”, conclui Naveca.
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