Embora representem mais da metade da população brasileira, as mulheres são 23% dos diplomatas a serviço do Brasil. Para mudar essa realidade, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) lançou a campanha #maismulheresdiplomatas. Por meio de materiais de comunicação veiculados nas redes sociais do órgão, o Itamaraty espera ampliar a discussão sobre a carreira diplomática e estimular o ingresso de mulheres nela.
Chefe da Divisão de Paz e Segurança Internacional do ministério, Viviane Rios Balbino conta que a turma com a qual ingressou na carreira, em 2003, era composta por 39 pessoas, das quais apenas cinco eram mulheres. “Eu não conseguia entender por que as mulheres não estavam representadas, já que o concurso era aberto a pessoas graduadas em qualque r área do conhecimento e o programa dele é amplamente voltado para a área de ciências sociais, nas quais as mulheres têm mais competência, pelo menos segundo o estereotipo”, afirma.
O estranhamento diante dessa realidade levou Viviane Balbino a desenvolver pesquisa sobre o tema, que resultou em uma dissertação de mestrado, posteriormente convertida no livro Diplomata. Substantivo Comum de Dois Gêneros – um Estudo sobre a Presença das Mulheres na Diplomacia Brasileira. Ao pesquisar os motivos de tamanha desigualdade de gênero, concluiu que se tratava de preconceito e de uma expressão do afastamento das mulheres dos espaços de poder, que ocorre em diversas outras áreas da sociedade. “ Era a política, porque o Itamaraty é um órgão eminentemente político”, destaca.
A campanha #maismulheresdiplomatas ocorre no ano em que se comemora os 100 anos da entrada da primeira mulher na carreira diplomática brasileira. A pioneira foi Maria Rebello Mendes, que teve que batalhar na Justiça para ter sua inscrição e a de outras mulheres ao concurso de admissão aceitas. De lá para cá, houve avanços, ainda que lentos. Apenas entre 2007 e 2013, a Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas foi chefiada, pela primeira vez, por uma mulher. Entre 2009 e 2013, período que coincidiu com o mais recente mandato eletivo do Brasil no Conselho de Segurança (2012-2013), também o cargo de representante alterno da missão foi ocupado por uma embaixadora.
Apesar dos avanços, os desafios permanecem. Ainda hoje, é comum haver uma divisão de tarefas baseadas em estereótipos sobre homens e mulheres. “Como toda instituição bastante antiga, a tendência à inércia é muito grande. Se as coisas sempre foram feitas de uma maneira, por que alterar? Por isso, as mulheres tradicionalmente foram relegadas a funções ligadas à administração, à [área] consular e até educação. Para quebrar isso, é preciso muita sensibilização”, pontua.
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E foi essa mobilização que levou à campanha em defesa de equilíbrio de gênero no âmbito do principal órgão da política externa brasileira. As diplomatas organizaram-se em torno de um coletivo de mulheres, pautaram o tema, estimularam a criação de um Comitê Gestor de Gênero e Raça (CGGR), órgão de caráter permanente e consultivo instituído em 2014 e, agora, estão engajadas na campanha. Tudo isso, segundo Viviane, para mostrar que mulheres podem assumir posições em qualquer área e que essa presença é benéfica para toda a sociedade.
A chefe da Divisão de Paz e Segurança Internacional acredita que, internamente, a campanha levará à ampliação do debate sobre a necessidade de políticas afirmativas para mulheres no Itamaraty. Atualmente, os concursos já contam com a política de cotas para pessoas pretas ou pardas, de acordo com a Lei de Cotas, que reserva aos negros 20% das vagas nos concursos da administração pública federal. E o resultado dessa mudança poderá ser ainda mais abrangente. “Está mais do que demonstrado que a participação de mulheres em negociações aumenta a efetividade das negociações, que o olhar delas sobre muitos temas é diferente, até porque o lugar na sociedade é diferente”, aponta.