Um júri de San Francisco condenou a Monsanto nesta sexta-feira (10) a pagar quase US$ 290 milhões a uma vítima de câncer em fase terminal, por omitir que o glifosato contido em seus herbicidas era cancerígeno.
A Justiça considerou que o herbicida produzido pela companhia, o Roundup, assim como sua versão profissional, o RagenrPro, contribuíram “substancialmente” para a doença terminal do jardineiro californiano Dewayne Johnson. “Recebi muito apoio desde o começo deste caso, muitas orações e energia de pessoas que sequer conheço. Estou contente de poder ajudar em uma causa que vai além de mim. Espero que esta decisão dê ao assunto a atenção que necessita”, disse Johnson aos jornalistas.
Cerca de 5.000 ações similares, envolvendo produtos perigosos para a saúde, estão sendo analisadas pela Justiça dos EUA atualmente.
A Monsanto afirmou que vai recorrer da decisão. “Defenderemos vigorosamente este produto com 40 anos de história e que continua sendo vital, efetivo e seguro para agricultores e outros”, declarou a Monsanto. “O juri entendeu tudo errado”, disse o vice-presidente da Monsanto, Scott Partridge.
Após oito semanas nos tribunais, o júri ordenou à companhia o pagamento de US$ 250 milhões em danos e outros custos, levando o total a quase US$ 290 milhões de dólares. Johnson, de 46 anos, sofre de um linfoma não Hodgkin incurável, que ele atribui ao fato de ter utilizado repetidamente RoundUp e RangerPro durante seu trabalho em uma escola entre 2012 e 2014.
Desregulador endócrino
É a primeira vez que a Monsanto, adquirida pela alemã Bayer, se encontra no banco dos réus pelos potenciais efeitos cancerígenos destes produtos que contêm glifosato, uma substância que vem sendo considerada como um desregulador endócrino, com prováveis efeitos nefastos para o organismo.
O advogado Brent Wisner, que defendeu Johnson, declarou que o resultado é uma “esmagadora evidência” de que o produto é perigoso. “Quando se está certo é mais fácil ganhar”. Wisner avaliou que este será o início de outras ações. Especialistas coincidem em que o veredito pode abrir a porta para centenas de novos processos.
Robert F. Kennedy Jr, advogado ambientalista, filho do finado senador dos EUA e membro da equipe legal de Johnson, também “acredita que o veredito desencadeará uma enxurrada de novos casos”. “O júri enviou uma mensagem à direção da Monsanto para que mude a forma como faz negócios”.
“É uma vitória para toda a humanidade, para toda a vida na Terra”, avaliou Zen Honeycutt, fundadora da ONG Moms Across America. “A maioria das nossas doenças e perda da qualidade do solo, água e vida silvestre está relacionada a esses produtos químicos tóxicos”.
O caso se baseou nas conclusões da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer – um organismo da Organização Mundial da Saúde, que em 2015 classificou o glifosato como “provavelmente cancerígeno”. A Monsanto sempre negou qualquer relação entre o câncer e o glifosato.
“Glisofato é seguro”
Em nota, o grupo farmacêutico Bayer declarou, neste sábado (11), que o glifosato é “seguro e não cancerígeno”, depois de o fabricante agroquímico Monsanto ter sido condenado nos Estados Unidos por não advertir sobre o perigo de seu pesticida Roundup.
“Baseando-se em provas científicas, avaliações regulamentadoras em escala mundial e em décadas de experiência prática do uso do glifosato, a Bayer estima que o glifosato é seguro e não cancerígeno”, segundo um porta-voz do grupo alemão.
(Com informações da AFP)