Como especialistas italianos podem colaborar na recuperação de peças do Museu Nacional, que foi destruído em um incêndio em setembro do ano passado, é o tema do Simpósio Internacional O Museu como Laboratório – Memória, Sustentabilidade e Inovação, que ocorre durante todo o dia de hoje (19).
O evento é uma iniciativa do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro e do Ministério dos Bens e Atividades Culturais da Itália. O objetivo é discutir a gestão do patrimônio cultural material e imaterial com técnicos brasileiros. Pela manhã, foram apresentadas as experiências italianas na recuperação e conservação dos acervos do Parque Arqueológico de Herculano e do Museu Arqueológico de Nápoles.
Cidade da província de Nápoles, Herculano é vizinha a Pompéia, ambas soterradas no ano de 79 pelas cinzas e lava de uma erupção do vulcão Vesúvio, o que preservou a cidade e os corpos dos moradores que morreram na cidade do Império Romano. As escavações no local começaram no ano de 1738 e foram encontradas amostras da vida romana no Século I, com detalhes do cotidiano como objetos de cozinha e afrescos nas paredes.
A vice-ministra italiana de Cultura, Lucia Borgonzoni, disse que o protocolo de intensões é uma demonstração da solidariedade italiana com o povo brasileiro e a vontade de ajudar na recuperação de um acervo tão importante como o do Museu Nacional.
“Temos a possibilidade de cooperar com a parte da recuperação de obras que ainda estão nos escombros, já que ainda tem muitos lugares dentro do museu cheio de obras que precisam ser recuperadas e catalogadas. A relação entre Brasil e Itália vai além das questões políticas, nos sentimos muito próximos aos brasileiros”, disse Lucia.
Cultura italiana no museu
A vice-ministra disse que a cultura italiana estava presente no museu, por meio da Coleção Teresa Cristina, com peças greco-romanas trazidas pela imperatriz esposa de D. Pedro II, que era natural de Nápoles. Lucia explicou que também está sendo tratado o empréstimo de obras do patrimônio italiano para o Museu Nacional, com a possibilidade de abrir uma exposição no Instituto Italiano, antes mesmo do prédio do museu ser restaurado.
O diretor do museu, Alexander Kellner, disse que ainda não foi fechado nenhum acordo com a Itália. Ele disse que a instituição precisa recompor seu acervo e que o Brasil deve reconhecer os erros que cometeu com o Museu Nacional e corrigi-los, para merecer doações de obras.
“Não adianta a gente querer pedir para países fazerem doações de material sem assumir a responsabilidade por esse material. O Brasil errou. Não estamos bem na fita. Porém, temos agora a oportunidade de repensar tudo isso. A negligência com relação à instituição Museu Nacional é conhecida, é sabida e não é de um governo único. São de vários governos no passado. Aconteceu, é uma tragédia, agora essa oportunidade não podemos perder, de mudar essa história e aprender com esse erro”.
Vistoria
Ontem, a comitiva italiana esteve no Museu Nacional e pode ver parte do acervo já recuperado, que está acondicionado em contêineres. A vice-ministra Lucia disse que as equipes técnicas vão avaliar o local para definir como a Itália poderá colaborar com a recuperação das peças.
Integrante da comitiva e palestrante no simpósio, o diretor do Museu Arqueológico de Nápoles, Paolo Giulierini, disse que o patrimônio cultural não pertence a uma só nação, e sim a toda a humanidade. Por isso, a solidariedade italiana com o Brasil.
“Nós tivemos a possibilidade de observar uma grande dedicação do pessoal do Museu Nacional, que está tentando recuperar muito material. Nós estamos aqui com duas linhas de ataque. A possibilidade de enviar ajuda material e experiências que a Itália tem. Por outro lado, o empréstimo para uma mostra, não só de obras de Herculano e Pompeia, mas também de Roma”.
A restauradora Elisabetta Canna, do Parque Arqueológico de Herculano, elogiou o trabalho feito pelos especialistas brasileiros e disse que a Itália pode contribuir com conhecimento específico na área de recuperação e restauração de obras.
“O pessoal do museu está fazendo um trabalho muito respeitoso e analítico, num protocolo acertado com a Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], que começou a gerenciar essa situação de emergência. Conversei como tratar isso, tem que recuperar tudo que ainda está dentro do museu, separar e condicionar de forma correta”.
Edição: Fábio Massalli