O vírus sincicial respiratório (VSR) é um dos principais responsáveis por doenças respiratórias em crianças e idosos.
A cada ano, estima-se que ele infecte cerca de 64 milhões de pessoas no mundo, causando 160 mil mortes. No Brasil, o VSR é responsável por 75% das internações por bronquiolite e 50% das internações por pneumonia em crianças menores de dois anos.
Até agora, não havia vacinas ou tratamentos específicos para o VSR, apenas medidas de prevenção e suporte. Mas isso pode mudar em breve, graças aos avanços médicos recentes que podem oferecer novas opções de prevenção e tratamento para essa doença.
Um anticorpo que pode prevenir as complicações do VSR
Uma das novidades é um anticorpo monoclonal chamado nirsevimabe, que foi desenvolvido pela empresa farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Sanofi Pasteur. Esse anticorpo é capaz de se ligar ao VSR e impedir que ele entre nas células e se multiplique.
O nirsevimabe foi testado em um estudo clínico com mais de 1.500 bebês prematuros ou com doenças cardíacas ou pulmonares, que são os grupos mais vulneráveis ao VSR. Os resultados mostraram que o anticorpo reduziu em 70% as hospitalizações e em 78% as visitas médicas por infecções respiratórias causadas pelo VSR.
O diferencial do nirsevimabe é que ele pode ser administrado uma única vez por via intramuscular, antes da temporada do VSR, e proteger os bebês por até seis meses. Isso é uma vantagem em relação ao único medicamento disponível atualmente para prevenir o VSR, o palivizumabe, que precisa ser aplicado mensalmente por via intravenosa e tem um custo elevado.
O nirsevimabe ainda não foi aprovado pelas agências regulatórias, mas já recebeu a designação de terapia inovadora pela FDA (Food and Drug Administration), a agência americana que regula medicamentos e alimentos. Isso significa que ele terá uma avaliação mais rápida e prioritária.
Vacinas para proteger os idosos e as gestantes
Outra frente de pesquisa é o desenvolvimento de vacinas contra o VSR, que poderiam imunizar as pessoas antes da exposição ao vírus. Uma das candidatas mais avançadas é a vacina da Pfizer, que está sendo testada em pessoas com mais de 60 anos, que têm maior risco de complicações pelo VSR.
A vacina da Pfizer usa uma tecnologia chamada RNA mensageiro, a mesma usada nas vacinas contra a Covid-19. Ela consiste em introduzir no organismo um fragmento de material genético do vírus, que faz com que as células produzam uma proteína viral. Essa proteína estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos contra o VSR.
A vacina da Pfizer mostrou-se segura e capaz de induzir uma resposta imune em um estudo de fase 1 com 50 voluntários. Agora, ela está sendo testada em um estudo de fase 2/3 com cerca de 8.600 participantes em vários países, incluindo o Brasil. Os resultados devem ser divulgados no final deste ano.
Outra vacina em desenvolvimento é a da Novavax, que está sendo testada em gestantes. A ideia é que as mulheres grávidas possam transmitir os anticorpos contra o VSR para os seus bebês, protegendo-os nos primeiros meses de vida. A vacina da Novavax usa uma tecnologia chamada subunitária, que consiste em usar apenas uma parte do vírus para induzir a resposta imune.
A vacina da Novavax está sendo testada em um estudo de fase 3 com cerca de 3.000 gestantes em vários países, incluindo o Brasil. Os resultados devem ser divulgados no início do próximo ano.
Desafios para a implementação dos tratamentos
Apesar dos avanços científicos, ainda há muitos desafios para que os novos tratamentos para o VSR cheguem a todos que precisam. Um deles é o custo, que pode ser proibitivo para os países de baixa e média renda, onde ocorrem a maioria das mortes pelo VSR.
Outro desafio é a logística, que envolve a distribuição, o armazenamento e a aplicação dos tratamentos. Por exemplo, o nirsevimabe precisa ser mantido em uma temperatura entre 2°C e 8°C, o que pode dificultar o seu transporte e conservação em locais sem infraestrutura adequada. Além disso, ele precisa ser aplicado por profissionais de saúde treinados, o que pode limitar o seu acesso em áreas remotas ou carentes.
Um terceiro desafio é a vigilância do VSR, que é essencial para monitorar a sua circulação, os grupos afetados e a sua evolução genética. Isso pode ajudar a planejar as estratégias de prevenção e tratamento, bem como a avaliar a sua eficácia e segurança. No entanto, muitos países não têm sistemas de vigilância do VSR adequados ou padronizados, o que dificulta a obtenção de dados confiáveis e comparáveis.
Efeitos a longo prazo do VSR
Além dos efeitos imediatos, o VSR pode ter consequências a longo prazo para a saúde respiratória. Estudos sugerem que as crianças que tiveram infecções graves pelo VSR na infância têm maior probabilidade de desenvolver chiado e asma na vida adulta. Essas condições podem afetar a qualidade de vida e aumentar o risco de outras doenças.
Outro aspecto que ainda precisa ser melhor estudado é a interação entre o VSR e outros patógenos respiratórios, como o vírus da gripe e o coronavírus. Esses patógenos podem coexistir ou se suceder no organismo, influenciando a gravidade da doença. Por exemplo, alguns estudos sugerem que a infecção pelo VSR pode aumentar a suscetibilidade à Covid-19 ou piorar o seu prognóstico.
Por isso, é importante continuar investindo em pesquisas sobre o VSR e os seus impactos na saúde pública. Os novos tratamentos podem representar um avanço significativo na prevenção e no controle dessa doença, mas ainda precisam ser testados em larga escala e tornados acessíveis para todos que precisam.