Uma pesquisa financiada pela Fapesp e coordenada pela EPM-Unifesp revelou a presença de variantes do vírus da raiva em morcegos de 15 espécies e saguis-de-tufo-branco no estado do Ceará.
O estudo, publicado na revista Scientific Reports, alerta para o risco de transmissão para humanos e a importância da prevenção e da vigilância.
Os pesquisadores analisaram 1.074 amostras de cérebro de morcegos coletadas entre 2011 e 2018 em 30 municípios do Ceará. Eles encontraram o vírus da raiva em 41 amostras, pertencentes a 15 espécies diferentes de morcegos. A maioria dos morcegos infectados eram insetívoros, mas também havia frugívoros e hematófagos.
Os cientistas também sequenciaram o genoma completo do vírus em 18 amostras de morcegos e quatro de saguis-de-tufo-branco, que são primatas nativos da Mata Atlântica que foram introduzidos no Nordeste brasileiro há cerca de um século. Eles descobriram que as variantes do vírus encontradas nos morcegos e nos saguis eram muito semelhantes entre si e também com aquelas que já causaram casos fatais de raiva humana no Ceará.
Segundo os autores, isso indica que há uma circulação intensa do vírus entre esses animais e que eles podem representar uma fonte potencial de infecção para humanos. Um agricultor de 36 anos foi a última vítima fatal da raiva no estado, em abril de 2023, após ser atacado por um sagui em fevereiro. Desde 1991, foram registrados 15 óbitos por raiva humana no Ceará, todos relacionados ao contato com saguis.
A pesquisa recomenda que as pessoas não toquem em morcegos e outros mamíferos selvagens e que procurem atendimento médico imediato em caso de contato direto. Além disso, sugere que sejam feitos estudos adicionais para entender a dinâmica de circulação do vírus e a sua relação com os hospedeiros.