Uma nova pesquisa das Universidades de Surrey e Oxford, na Inglaterra, mostrou que um tipo de célula que ajuda a reparar o tecido cardíaco após um infarto pode também aumentar o risco de arritmias, que são alterações no ritmo dos batimentos cardíacos.
Os pesquisadores esperam que os resultados possam abrir novas possibilidades para tratamentos regenerativos seguros para pessoas que sofreram um infarto.
A terapia celular é uma técnica que usa células criadas em laboratório a partir de células-tronco para substituir ou restaurar células danificadas por doenças ou lesões. No caso do coração, a terapia celular visa regenerar o tecido cardíaco que morre por falta de oxigênio durante um infarto, causando uma cicatriz que prejudica a função do órgão.
O estudo, publicado na revista Cellular and Molecular Life Sciences, focou nas interações entre as células derivadas de células-tronco chamadas de cardiomiócitos (células que formam o músculo cardíaco) e os miofibroblastos, que são células que tentam reparar o tecido cardíaco após um infarto.
Os pesquisadores descobriram que os miofibroblastos afetam as propriedades elétricas e o controle de cálcio das células cardíacas, além de alterar a expressão de genes responsáveis por funções vitais do coração, levando à instabilidade elétrica. Isso pode provocar arritmias, que podem ser fatais se não tratadas.
Os pesquisadores identificaram a interleucina-6 (IL-6), uma molécula liberada pelos miofibroblastos que está envolvida em processos inflamatórios, como um fator chave nessa interação. Eles descobriram que bloquear a sinalização da IL-6 reduziu os efeitos negativos dos miofibroblastos nas células cardíacas.
A Dra. Patrizia Camelliti, autora principal do estudo, disse: “Entender a relação entre os miofibroblastos e as células cardíacas pode ser a chave para desenvolver tratamentos regenerativos seguros para aqueles que sofreram um infarto. Nosso estudo mostrou que a IL-6 tem um papel importante nesse processo e que seu bloqueio pode melhorar a terapia celular do coração.”
A terapia celular para o coração é uma área de pesquisa promissora, mas ainda enfrenta muitos desafios, como a baixa sobrevivência e integração das células transplantadas, a imunogenicidade, a heterogeneidade e a qualidade das células, e os efeitos adversos potenciais, como arritmias, tumores e inflamação.
As células cardíacas derivadas de células-tronco são consideradas uma fonte ideal de células para a terapia celular do coração, pois podem ser geradas a partir de células do próprio paciente, evitando problemas de rejeição imunológica, e podem se diferenciar em todos os tipos de células do coração, como átrios, ventrículos e células do nó sinoatrial.
Os miofibroblastos são células que se originam da ativação e transdiferenciação de fibroblastos residentes ou de outras fontes, como células endoteliais, pericitos ou células-tronco mesenquimais. Eles desempenham um papel importante na cicatrização de feridas, mas também contribuem para a fibrose e a disfunção cardíaca após um infarto.
O estudo dos pesquisadores ingleses abre novas perspectivas para aprimorar a terapia celular do coração, buscando formas de reduzir ou eliminar os miofibroblastos ou a IL-6, e assim evitar as arritmias e melhorar a função cardíaca dos pacientes que sofreram um infarto.