O Exército sírio abateu uma aeronave de seu aliado russo com 15 soldados a bordo. Moscou acusou Israel, antes de se referir a “circunstâncias acidentais trágicas”.
Este incidente sem precedentes ocorreu na noite de segunda-feira (17), pouco depois que a Rússia e a Turquia anunciaram um acordo sobre a província de Idlib, último grande reduto rebelde no noroeste da Síria, onde uma “zona desmilitarizada” deverá ser estabelecida, afastando assim a perspectiva de uma ofensiva do regime. O avião russo Illiushin-20 foi derrubado acidentalmente, segundo Moscou, pela defesa antiaérea síria, que atirou para interceptar mísseis israelenses que tinham como alvo depósitos de munição na província de Latakia (noroeste), reduto do presidente Bashar al-Assad.
A aeronave, geralmente usada em missões de vigilância, foi “abatida por um sistema de mísseis S-200” do exército sírio, matando todos os 15 tripulantes, informou o ministério russo da Defesa. A queda do avião russo é o mais grave incidente entre os dois aliados desde que Moscou passou a intervir militarmente na Síria no final de 2015 para apoiar o regime de Damasco, então enfraquecido.
No entanto, o exército russo inicialmente dirigiu sua ira contra Israel, apontado como responsável pela tragédia. “Os pilotos israelenses, cobrindo-se com o avião russo, o colocaram sob o fogo da defesa antiaérea síria”, acusou o ministério russo. “Consideramos hostis essas provocações de Israel e nos reservamos o direito de responder adequadamente”, advertiu Moscou nesta terça-feira (18), enquanto o embaixador israelense na Rússia foi convocado.
Pouco depois, o presidente russo, Vladimir Putin, diluiu seu discurso. O chefe do Kremlin falou de “uma série de circunstâncias acidentais trágicas”, parecendo adotar um tom conciliatório em relação a Israel.
O exército israelense, por sua vez, contestou que sua força aérea tivesse usado a aeronave russa como cobertura para escapar dos tiros sírios. “Israel vê Assad, cujo exército abateu o avião russo, como totalmente responsável por esses incidentes”.
Impedir uma ofensiva
No plano diplomático, Putin e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan acordaram na segunda-feira a criação de uma “zona desmilitarizada” sob controle russo-turco na região de Idlib, que permitirá evitar uma ofensiva do regime de Damasco neste último reduto rebelde da Síria. “Estou convencido de que, com este acordo, evitamos uma grande crise humanitária em Idlib”, declarou Erdogan durante a entrevista coletiva após a reunião entre os dois chefes de Estado. A Rússia, fiel aliada do regime de Damasco, é mais inclinada a uma ofensiva, enquanto a Turquia se opõe.
A região de Idlib é controlada em 60% pelo grupo extremista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), composto em grande parte pelo ex-braço da Al-Qaeda na Síria. Embora apoie outros grupos rebeldes, Ancara considera o HTS “terrorista”.
A Comissão Europeia pediu nesta terça que o acordo garanta “a proteção de vidas e infraestruturas civis, bem como o acesso humanitário sem entrave e durável”.
(Com informações da AFP)