Em um mundo cada vez mais conectado e estressante, muitas pessoas buscam nas redes sociais informações e apoio sobre saúde mental.
No entanto, nem sempre o conteúdo que circula nessas plataformas é confiável ou baseado em evidências científicas. Para tentar oferecer uma alternativa à profusão de conteúdos (bons e ruins) sobre saúde mental nas redes sociais, a Universidade de Harvard iniciou um projeto inovador que envolve a colaboração de influenciadores de saúde mental no TikTok.
O TikTok é uma rede social que permite aos usuários criar e compartilhar vídeos curtos, geralmente com música, humor ou efeitos especiais. A plataforma tem mais de 1 bilhão de usuários ativos mensais, sendo especialmente popular entre os jovens. Segundo uma pesquisa da YouGov, 57% dos brasileiros acreditam que os influenciadores podem ajudar ou atrapalhar a saúde mental dos internautas e 25% já buscaram ajuda profissional após serem impactados por um conteúdo online.
Nesse contexto, a Escola de Saúde Pública TH Chan, em Harvard, convidou 25 influenciadores de saúde mental do TikTok para participar de uma experiência de campo, na qual cientistas sociais tentaram injetar conteúdo baseado em evidências nos seus feeds. Os influenciadores são pessoas que usam a plataforma para compartilhar suas experiências, dicas, conselhos e humor sobre saúde mental, abordando assuntos como depressão, ansiedade, estilos de apego, rompimentos e autoestima.
O objetivo do projeto é avaliar se os influenciadores podem ser agentes de mudança positiva na saúde mental dos seus seguidores, transmitindo informações corretas e encorajando o cuidado e a prevenção. Além disso, o projeto visa entender como as redes sociais podem ser usadas para disseminar conhecimento científico de forma acessível e atraente.
O projeto é coordenado pelo professor Ichiro Kawachi, que é especialista em epidemiologia social e saúde pública. Ele explica que a ideia surgiu após observar o aumento da demanda por informação sobre saúde mental durante a pandemia de Covid-19 e a falta de fontes confiáveis nas redes sociais. Segundo ele, os influenciadores têm um papel importante na formação da opinião pública e podem contribuir para reduzir o estigma e o preconceito em torno da saúde mental.
Os influenciadores selecionados para o projeto receberam treinamento online sobre temas como neurociência, psicologia, psiquiatria e políticas públicas. Eles também tiveram acesso a materiais educativos produzidos por Harvard e puderam interagir com os pesquisadores para tirar dúvidas e dar feedback. A partir disso, eles criaram vídeos sobre saúde mental usando sua própria linguagem e estilo, incorporando as informações baseadas em evidências.
Um dos influenciadores que participou do projeto foi Rachel Havekost, uma bartender de meio período em Seattle que gosta de brincar que sua principal qualificação são 19 anos de terapia. Ela conta que ficou surpresa ao receber o convite de Harvard e que achou a experiência muito enriquecedora. Ela diz que aprendeu muito sobre saúde mental e que se sentiu mais confiante para falar sobre o assunto com seus mais de 300 mil seguidores.
Outro influenciador que fez parte do projeto foi Trey Tucker, também conhecido como @ruggedcounseling no TikTok. Ele é um terapeuta de Chattanooga, Tennessee, que discute estilos de apego em sua conta no TikTok, às vezes enquanto carrega fardos de feno na carroceria de uma caminhonete. Ele afirma que o projeto foi uma oportunidade única de ampliar seu conhecimento sobre saúde mental e de alcançar um público maior com conteúdo relevante e responsável.
O projeto ainda está em fase de análise dos resultados, mas os pesquisadores já adiantam que houve um aumento significativo no engajamento dos seguidores dos influenciadores após o início da intervenção. Eles também relatam que receberam feedback positivo dos usuários do TikTok, que elogiaram a qualidade e a utilidade das informações sobre saúde mental.
O professor Kawachi diz que o projeto é um exemplo de como a academia pode se aproximar da sociedade e usar as redes sociais como uma ferramenta de educação e comunicação. Ele espera que o projeto possa inspirar outras iniciativas semelhantes e que possa contribuir para a promoção da saúde mental no Brasil e no mundo.