Uma terapia inovadora contra o câncer no sangue, que usa células de defesa do próprio paciente modificadas em laboratório, será testada pela primeira vez no Brasil.
A técnica, chamada de CAR-T Cell, já mostrou resultados positivos em outros países, mas ainda é muito cara e inacessível para a maioria dos pacientes.
A Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (FUNDHERP) e o Instituto Butantan receberam autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para realizar um ensaio clínico com a terapia CAR-T Cell em pacientes com leucemia linfoide aguda B e linfoma não-Hodgkin B, dois tipos de câncer que afetam as células do sistema imunológico.
O objetivo do estudo é avaliar a segurança e a eficácia do tratamento, que consiste em coletar as células de defesa do paciente, chamadas de linfócitos T, e modificá-las geneticamente em laboratório para que elas reconheçam e ataquem as células cancerígenas. Depois, as células modificadas são infundidas de volta no paciente, onde elas se multiplicam e combatem o tumor.
O estudo será feito em três etapas, começando por Ribeirão Preto e depois em São Paulo e Campinas. A primeira etapa envolve 10 pacientes, que serão acompanhados por um ano. A segunda etapa terá 70 pacientes, que serão monitorados por dois anos. A terceira etapa terá 120 pacientes, que serão seguidos por três anos.
Atualmente, a terapia CAR-T Cell está disponível apenas na rede privada brasileira, a um custo de pelo menos R$ 2 milhões por pessoa. Com o estudo clínico, o objetivo é registrar o produto rapidamente para que ele se torne acessível no Sistema Único de Saúde (SUS). A Anvisa criou um plano de acompanhamento até dezembro de 2024 para facilitar o processo.
A terapia CAR-T Cell já trouxe resultados positivos para alguns pacientes, como Paulo Peregrino, que teve remissão total do câncer em 30 dias após 13 anos de luta contra a doença. Ele foi um dos primeiros brasileiros a receber o tratamento nos Estados Unidos, em 2019. No entanto, a cura só pode ser considerada oficial após cinco anos sem indícios da doença.
O câncer no sangue é uma doença grave que afeta milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é que ocorram cerca de 10 mil novos casos de leucemia e 8 mil novos casos de linfoma no país em 2020. A terapia CAR-T Cell pode ser uma esperança para esses pacientes, mas ainda precisa ser testada e aprovada pelas autoridades sanitárias.