Relatório publicado na revista The Lancet revela avanço preocupante de bactérias resistentes no país e alerta para o risco de infecções comuns voltarem a ser fatais.
Um estudo global publicado em setembro de 2024 na renomada revista científica The Lancet revelou que a resistência antimicrobiana (AMR) — quando bactérias deixam de responder aos antibióticos — está crescendo de forma alarmante em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil.
Segundo os pesquisadores, a América Latina e o Caribe, região que abrange o Brasil, estão entre as áreas com maior aumento no número de mortes causadas por infecções resistentes. Isso significa que doenças antes consideradas simples, como infecção urinária ou pneumonia, estão se tornando mais difíceis de tratar e, em alguns casos, fatais.
Quem está em risco?
Todos podem ser afetados, mas os grupos mais vulneráveis são os idosos, pacientes internados e pessoas com o sistema imunológico enfraquecido. O estudo mostra que a maioria das mortes por AMR ocorre entre pessoas com mais de 70 anos, mas crianças e adultos também não estão livres do perigo.
Onde o problema é mais grave?
O relatório analisou dados de 204 países. O Brasil não teve seus números divulgados individualmente, mas está incluído nas projeções da América Latina, onde a resistência a antibióticos como os carbapenêmicos — medicamentos usados em casos graves — aumentou significativamente. A falta de dados consistentes no país é uma barreira adicional no combate ao problema.
Quando isso se tornou urgente?
Embora a resistência a antibióticos venha sendo discutida há anos, os dados agora mostram que o problema se agravou nas últimas décadas. Em 2021, foram registradas mais de 4,7 milhões de mortes associadas à AMR no mundo, sendo 1,14 milhão diretamente atribuídas à resistência bacteriana. E a previsão para 2050 é ainda mais sombria: até 8,2 milhões de mortes por ano podem ocorrer se nenhuma medida for tomada.
Por que isso está acontecendo?
O uso inadequado de antibióticos é o principal vilão. Isso inclui:
- Tomar antibiótico sem necessidade ou sem receita médica
- Interromper o tratamento antes do tempo
- Usar antibióticos em excesso na agropecuária
Além disso, falhas no diagnóstico e na vigilância hospitalar dificultam o controle da disseminação de bactérias resistentes.
O estudo sugere uma combinação de medidas:
- Higiene básica e vacinação para evitar infecções
- Uso responsável de antibióticos, sempre com prescrição médica
- Investimento em sistemas de vigilância e laboratórios
- Desenvolvimento de novos medicamentos
Se políticas eficazes forem implementadas, até 92 milhões de mortes podem ser evitadas até 2050, segundo os autores do estudo.
A resistência antimicrobiana é uma ameaça real e crescente à saúde pública brasileira. Informar a população, capacitar profissionais de saúde e investir em infraestrutura são passos urgentes para evitar que o que hoje é uma infecção tratável se torne, novamente, uma sentença de morte.
Fontes:
– The Lancet: Global burden of bacterial antimicrobial resistance 1990–2021
– Global Health Data Exchange (GHDx): AMR Data & Forecasts 1990–2050